A Hepatite Alcoólica é uma síndrome inflamatória progressiva
do fígado relacionada à ingestão crônica de grandes quantidades de etanol. Os
pacientes afetados podem apresentar febre subaguda, hepatomegalia, leucocitose e
manifestações de hipertensão portal. Contudo, nas formas mais leves, boa parte
dos casos de hepatite alcoólica é completamente assintomático.
As mulheres são mais suscetíveis que os homens aos efeitos
adversos do álcool, desenvolvendo hepatite alcoólica após períodos mais curtos e
ingestão de quantidades menores de etanol. Além disso, a hepatite alcoólica
também evolui mais rapidamente nas mulheres. Calcula-se que a quantidade mínima
de etanol necessária para desenvolver cirrose seja de 40g para homens e 20g para
mulheres com mais de 15-20 anos de idade.
Pacientes com hepatite alcoólica que não abandonam o etilismo
fatalmente evoluem para cirrose. O prognóstico a longo prazo depende grandemente
da interrupção da ingestão de etanol. Aproximadamente 15-50% dos casos de
hepatite alcoólica aguda hospitalizados evoluem para óbito.
A coexistêncis de Hepatites B e/ou C aumentam a severidade da Hepatite Alcóolica.
As principais lesões hepáticas pelo
etanol são esteatose, HA,
cirrose e fibrose
perivenular. A esteatose é causada pela deposição
de gorduras dentro das células do fígado, os hepatócitos,
sendo consideradas lesão predisponente para a HÁ e,
esta é considerada lesão pré-cirrótica.
Além das lesões hepáticas
diretas, o alcoolismo acaba por levar a deficiências
nutricionais já que os alcoólatras freqüentemente
obtém 50% de suas calorias do etanol, deixando de consumir
alimentos que supram suas necessidades de proteína, tiamina,
folato e piridoxina.
As manifestações clínicas
da HA podem variar da forma assintomática
até a formas graves. Os sinais e sintomas mais comuns são:
aumento do fígado, icterícia, anorexia, perda do apetite,
tumores, emagrecimento, febre e dor abdominal.
Além das lesões hepáticas,
o álcool pode afetar outros órgãos como coração,
pâncreas e sistema nervoso, podendo levar a arritmias
cardíacas, pancreatite crônica
e atrofia testicular.
Na maioria dos pacientes, a hepatite alcoólica é leve e o
prognóstico a curto prazo é bom, dispensando o emprego de medidas terapêuticas
específicas. Obviamente, a ingestão etílica deve ser sempre desestimulada. A
preocupação com o status nutricional é uma constante, recomendando-se a
suplementação com vitaminas e sais minerais, incluindo folato e tiamina. A
coagulopatia, se presente, deve ser tratada com vitamina K por via
intramuscular.
Cerca de 50% dos pacientes com hepatite alcoólica aguda grave
evoluem para óbito durante os primeiros 30 dias de evolução do distúrbio. O
maior fator preditivo de mortalidade no curto prazo é a presença de
encefalopatia hepática. Estes casos podem se beneficiar de abordagens
direcionadas para a redução da lesão, intensificação da regeneração e supressão
da inflamação hepática. Os glicocorticóides são os fármacos mais
comumente empregados para este propósito. No longo prazo, os objetivos
terapêuticos incluem melhora da função hepática, prevenção da progressão para
cirrose e redução da mortalidade. Apenas a abstinência alcoólica é capaz de
resultar em benefícios nestes três pontos.
tratamento medicamentoso da hepatite alcoólica é recheado de
controvérsias. Após décadas de pesquisas intensas, ainda não existe um consenso
sobre o papel de outras drogas além dos glicocorticóides.
A restrição protéica está indicada apenas nos pacientes com
encefalopatia hepática severa, uma vez que a restrição prejudica a regeneração e
piora ainda mais a função hepática. Mesmo na presença de encefalopatia, pode-se
permitir que o paciente consuma no mínimo 60-100g de proteína por dia. A
restrição salina pode ser necessária em paciente com ascite.
O transplante hepático
ortotópico vem sendo amplamente utilizado em pacientes com hepatopatia terminal.
Entretanto, a maioria dos pacientes com hepatite alcoólica em atividade é
excluído dos protocolos de transplante devido ao abuso alcoólico. Boa parte dos
serviços exige um período de abstinência mínimo de 6 meses antes de se
considerar a possibilidade de transplante.
Pacientes com hepatite alcoólica associada a cirrose –
especialmente aqueles com hepatite B ou C concomitante – devem ser avaliados
periodicamente devido ao risco de carcinoma hepatocelular. A maioria das
complicações da hepatite alcoólica é idêntica ao observado na cirrose, e incluem
hemorragia por varizes esofagianas, encefalopatia hepática, coagulopatia,
trombocitopenia, ascite, peritonite bacteriana espontânea e sobrecarga de ferro.
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