terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Paracetamol

Ficha Técnica
Nome: Tylenol
Nome genérico (principio ativo): Paracetamol ou Acetaminofeno
Classificação: Analgésico / antipirético
Apresentação: Comprimidos revestidos 500mg; uso oral; caixa com 200 comprimidos
                         Comprimidos revestidos 750mg; uso oral, caixa com 20 ou 200 comprimidos
                         Suspensão oral concentrada 100mg/ml; uso oral; frasco com 15ml (Tylenol Bebê)
                         Suspensão oral; 32mg/ml; uso oral; frasco com 60ml (Tylenol Criança)
                         Solução oral 200mg/ml; uso oral; frasco com 15ml
                         Comprimidos revestido 500mg paracetamol + 32mg cafeína; uso oral; caixa com 20 ou 100 comprimidos 
Fabricante: Johnson & Johnson 

Ao contrário do que muitos pensam o Paracetamol não possui nenhuma propriedade antiinflamatória!
Em 2003 foi apontado como a principal causa de insuficiência hepática nos Estados Unidos. 
A FDA (Food and Drug Administration), nos EUA, equivalente à ANVISA, no Brasil: anunciou "em 13/01/2011 que obrigará as indústrias farmacêuticas a produzirem produtos que contenham paracetamol com um limite máximo de 325 mg (migrogramas) por comprimido, cápsula ou outro tipo de unidade da dose. A FDA acredita que limitar a quantidade de paracetamol por unidade prescrita pode reduzir o risco de lesão grave ao fígado por dosagem excessiva de paracetamol, um evento adverso que pode levar à falência do fígado, transplante de fígado e morte."

Paracetamol e Ressaca
Segundo o toxicologista Anthony Wong, do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas, a velha prática de tomar um comprimido com paracetamol em dias de ressaca para combater a dor de cabeça deve ser completamente abolida da vida das pessoas. "Não se pode tomar um porre e depois tomar paracetamol, pois pode causar lesão hepática fulminante mesmo em doses menores do que 20 comprimidos. Também não pode tomar aspirina, porque ela aumenta o sangramento gástrico."
Para Anthony Wong, a pesquisa  divulgada pela revista científica New Scientist, em 2003 veio numa boa hora. "É importante e muito bem-vindo o alerta, porque os americanos e principalmente os brasileiros tomam remédios como se fossem 'M&Ms'. Não pode." Ele contou que nos Estados Unidos, além da morte causada por falência hepática, o paracetamol é a principal causa de morte por intoxicação de todos os remédios que existem no país."

Tylenol e Diabetes
Tylenol deve ser usado com cautela por pacientes diabéticos pois em todas as suas apresentações contêm açúcar! 
Antes de fazer uso de outros medicamentos contendo paracetamol portadores de diabetes devem verificar os demais componentes da fórmula.

Paracetamol e Dengue
Paracetamol é contra indicado em caso de suspeita de dengue por causar efeitos no fígado!

Interações Medicamentosas
O uso de contraceptivos orais diminuem o efeito terapêutico do Paracetamol.
Fenobarbital e Isoniazida aumentam os efeitos hepatotóxicos do Paracetamol.
Rifampicina diminui o efeito analgésico do Paracetamol.
Anticoagulantes cumarínicos tem seu efeito aumentado com o uso concomitante de Paracetamol.
A administração concomitante de Paracetamol com qualquer outro medicamentos que seja hepatotóxico deve ser evitada.
A administração de Paracetamol juntamente com alimentos retarda a absorção do medicamento.

As lesões no fígado causadas por Paracetamol podem ser irreversíveis e ocorrem de forma muito rápida, em um prazo de 12 horas após uma ingestão excessiva do medicamento o fígado já se encontra comprometido. Por esse motivo ao suspeitarem de intoxicação por Paracetamol, principalmente em crianças em que a mãe não tem certeza da dose administrada, os médicos começam o tratamento com o antídoto e depois de exames de dose do medicamento suspendem ou continuam com o tratamento de acordo com a necessidade.
O pouco tempo entre a ingestão excessiva e os danos ao fígado é o principal motivo para que os médicos recomendem que não se use paracetamol juntamente com medicamentos antigripais. Os antigripais em sua maioria contêm Paracetamol na fórmula. Não se deve ingerir mais de 4g de Paracetamol por dia para adultos e 75mg/Kg para crianças!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Clonazepam

Hoje tem inicio no blog uma série de posts sobre medicamentos. 
2 Gotinhas de Rivotril vai selecionar os medicamentos mais usados e falar sobre indicação, interações, mecanismo de ação e dar algumas dicas para conseguir melhorar a resposta aos medicamentos. 
Para começar nada melhor que falarmos do Rivotril!

Ficha Técnica:
Nome: Rivotril
Nome Genérico (principio ativo): Clonazepam
Classe terapêutica: Ansiolítico / anticonvulsivante
Apresentações: Comprimidos 0,5mg ou 2mg; caixa com 20 ou 30 comprimidos; uso oral.
                           Comprimidos sublinguais 0,25mg, caixa com 30 comprimidos; uso oral.
                           Gotas 2,5mg/ml; frasco com 20ml; uso oral. (1gota = 0,1mg).
Fabricante: Roche.

Há quase 40 anos no mercado em 2010 o Clonazepam foi o segundo medicamento mais consumido no Brasil, ficando atrás apenas do Microvilar, anticoncepcional que faz parte da lista de medicamentos distribuídos pelo SUS. Nesse mesmo ano o Brasil foi apontado como o maior consumidor mundial de Clonazepam. 

Clonazepam é um ansiolítico da família dos benzodiazepínicos, que possuem como principais propriedades inibição leve de várias funções do sistema nervoso central, permitindo, com isso, uma ação anticonvulsivante, alguma sedação, relaxamento muscular e efeito tranquilizante. 
É indicado para: 
* Distúrbio epiléptico: está indicado isoladamente ou como adjuvante no tratamento das crises epilépticas 
mioclônicas, acinéticas, ausências típicas (pequeno mal), ausências atípicas (síndrome de 
Lennox-Gastaut). Como medicação de segunda linha em espasmos infantis (síndrome de West). 
* Transtornos de ansiedade  
• Como ansiolítico em geral. 
• Distúrbio do pânico com ou sem agorafobia. 
• Fobia social.  
* Transtornos do humor 
• Transtorno afetivo bipolar: tratamento da mania. 
• Depressão maior: como adjuvante de antidepressivos (depressão ansiosa e na fase inicial de 
tratamento). 
* Emprego em síndromes psicóticas 
• Tratamento da acatisia. 
* Tratamento da síndrome das pernas inquietas
* Tratamento da vertigem e sintomas relacionados à perturbação do equilíbrio, como náuseas, 
vômitos, pré-síncopes ou síncopes, quedas, zumbidos, hipoacusia, hipersensibilidade a sons, 
hiperacusia, plenitude aural, distúrbio da atenção auditiva, diplacusia. 
* Tratamento da síndrome da boca ardente.
É contra-indicado para pacientes com glaucoma agudo de ângulo fechado e pacientes com problemas hereditários raros de intolerância à galactose, de deficiência de Lapp lactase ou de má absorção glicose/galactose. Não deve ser administrado por mulheres grávidas ou lactantes!!


Uma dose oral única  começa a ter efeito dentro de 30 a 60 minutos e continua eficaz por 6 a 8 horas em crianças e 8 a 12 horas em adultos. Deve ser administrado conforme orientação médica.
Os comprimido sublinguais devem permanecer sob a língua por no mínimo três minutos e não devem ser mastigados. As gotas não devem ser administradas direto na boca.
Se houver o esquecimento de administração de uma dose, essa nunca deve ser dobrada no próximo horário! O tratamento deve ser descontinuado de forma gradual, nunca abruptamente. 

Pode causar dependência física e psíquica, por esse motivo somente é vendido mediante receita médica que fica retida na farmácia. Em pacientes com histórico de abuso de álcool e drogas o risco de dependência é maior.
Não deve ser administrado concomitantemente com álcool pois os efeitos do Clonazepam são aumentados. Não deve ser administrado com sua de toranja pois aumenta a toxicidade do medicamento O uso concomitante com ácido valpróico pode causar estado epilético de pequeno mal.


quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Autotransplante de Medula Óssea

Hoje o ator Reynaldo Gianecchini se submeteu a um autotransplante de medula óssea como parte do seu tratamento contra um linfoma não Hodgkin de células T, o qual foi diagnosticado em agosto de 2011.
Este blog explica neste post para você o que é um autotransplante de medula óssea.  


O autotransplante é um recurso terapêutico que permite ao médico submeter o paciente a doses muito altas de quimioterapia sem destruir para sempre o sistema imune dele.


Sabe-se que o poder de destruição da quimio atinge não só a célula cancerosa, mas também as células que não estão doentes. Essa particularidade dos quimioterápicos faz com que tratar alguns cânceres seja uma tarefa complicada. Então, como fazer para bombardear as células doentes que estão misturadas às células normais no corpo do paciente? O transplante autólogo de medula óssea – é esse o nome dado pelos médicos ao autotransplante – é um dos recursos encontrados pela medicina para enfrentar esse problema.



“Nós guardamos uma quantidade de células-tronco da medula óssea do paciente, submetemos ele a altas doses de quimioterapia e depois recolocamos essas células no corpo dele” explica de forma bem didática a hematologista do HCPA.
Parece fácil? Não é mesmo. O autotransplante de medula óssea é um procedimento delicado e cheio de detalhes. Ele inicia com a preparação prévia do paciente com medicamentos para aumentar a quantidade de células-tronco circulando no sangue.
Quando exames de sangue apontam uma quantia suficiente, a pessoa é conectada a uma máquina que filtra o sangue, separando as células-tronco do restante e devolvendo o sangue para o corpo sem esses componentes, num processo chamado de aférese. As células-tronco são então armazenadas em uma bolsa e congeladas a temperaturas baixíssimas, num outro processo conhecido como criopreservação.
Só depois desse processo o paciente recebe a quimioterapia em doses extremamente altas. Dependendo da doença, do estado do paciente e do protocolo de tratamento usado, os médicos fazem uso da radioterapia junto com os quimioterápicos.
“É uma tentativa de limpar o organismo de células tumorais. O problema é que a dose é tão alta que afeta também a medula óssea” diz o hematologista Marcelo Bellesso, do Grupo de Linfomas Não-Hodgkin do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP).
Sem a medula óssea funcionando, o corpo deixa de produzir plaquetas, as responsáveis pela coagulação sanguínea, glóbulos vermelhos (eles são responsáveis pelo transporte de oxigênio) e glóbulos brancos – as células de defesa do corpo.
“Com isso o paciente pode ter complicações graves, como queda da imunidade , anemia e risco mais alto de hemorragias”.
Depois desse intenso tratamento o paciente recebe de volta as células-tronco que estavam guardadas. Injetadas novamente na corrente sanguínea, elas estimulam a recuperação da medula, que pode voltar a funcionar em até 20 dias.
“Esse período de recuperação da medula exige isolamento do paciente, para evitar que ele pegue alguma infecção, já que está com o sistema imune extremamente frágil” diz a hematologista do HCPA.
É bom esclarecer que nem sempre o autotransplante cura a doença. Às vezes, dizem os especialistas, ele não é a melhor opção de tratamento ou mesmo a mais viável. Tudo vai depender do tipo de linfoma, do estágio em que está a doença e da forma como o paciente reage aos medicamentos que recebe antes que o autotransplante seja considerado como opção de tratamento.
“Existe uma gama enorme de linfomas. Só entre os linfomas não-Hodgkin existem aproximadamente 47 subtipos. São tumores muito heterogêneos entre si. Alguns são de crescimento lento (indolentes), outros de crescimento rápido (agressivos). Nem todos têm indicação de transplante” afirma Bellesse.
Assim esclareceu a hematologista Lucia Mariano da Rocha Silla, coordenadora do Programa de Transplante de Medula Óssea do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Conjutivite

Chegou o verão e com ele, além da dengue, a conjutivite!
Nessa época do ano a doença é mais comum, em 2011 o estado de São Paulo teve um grande surto onde somente na cidade de São Paulo 119 mil casos foram registrados. 


Conjuntivite é a inflamação da conjuntiva, membrana transparente e fina que reveste a parte da frente do globo ocular e o interior das pálpebras. O branco do olho (esclera) é coberto por uma película fina chamada conjuntiva, que produz muco para cobrir e lubrificar o olho. Normalmente, possui pequenos vasos sangüíneos em seu interior, que podem ser vistos através de uma observação mais rigorosa. Quando a conjuntiva se irrita ou inflama, os vasos sangüíneos que a abastecem alargam-se e tornam-se muito mais proeminentes, causando então a vermelhidão do olho. 
Em geral, acomete os dois olhos, pode durar de uma semana a 15 dias e não costuma deixar seqüelas.



Quando a conjuntivite aparece depois do contato com um agente químico, ela é chamada de conjuntivite irritativa. Já aquele tipo causado por pó ou perfume recebe o nome de alérgica. As duas variações da doença provocam principalmente vermelhidão e coceira, e não são transmitidas por contato. Ela pode ser ainda viral ou bacteriana, em geral mais graves e podendo ser transmitidas por contato. As virais são as que mais freqüentemente são causas de epidemias.
A contaminação do olho com bactérias ou vírus, se dá por transmissão dos mesmos pelas mãos (por manipulação do olho), por toalhas, cosméticos (particularmente maquiagem para os olhos) ou uso prolongado de lentes de contato. 

Os irritantes causadores de conjuntivite podem ser a poluição do ar, fumaça (cigarro), sabão, sabonetes, spray, maquiagens, cloro, produtos de limpeza, etc. 
Alguns indivíduos apresentam conjuntivite alérgica (sazonal), devido à alergia, principalmente a pólen e perfumes em spray. 



Em geral, a conjuntivite se caracteriza por ardência e coceira na região ocular, com sensação de corpo estranho (areia ou de ciscos) nos olhos, bem como um irritante lacrimejar, olhos vermelhos e sensíveis principalmente à claridade, e pálpebras inchadas. No caso da conjuntivite infecciosa, os olhos doem, além de secretarem um insistente líquido amarelado. Este tipo é, sem dúvida, o que mais aflige.

Infecções bacterianas, com estafilococos ou estreptococos, deixam o olho vermelho, associado a um montante considerável de secreção purulenta (pus). Uma consulta imediata a um oftalmologista é aconselhada. Por outro lado, outras infecções bacterianas são crônicas e podem produzir pouca ou mesmo nenhuma supuração, exceto um pequeno endurecimento dos cílios pela manhã.

Alguns vírus produzem a típica irritação dos olhos, dores de garganta e corrimento nasal, devido a um pequeno resfriado. Outros podem infectar apenas os olhos. As conjuntivites virais produzem geralmente duram de uma a duas semanas. 



Para combater uma epidemia é importante que as pessoas com conjuntivite, bem como as que não apresentam a infecção, tenham algumas informações que são úteis para a sua proteção e para evitar o contágio.

Para prevenir a transmissão, enquanto estiver doente, tome as seguintes precauções: 

• Lave com freqüência o rosto e as mãos uma vez que estas são veículos importantes para a transmissão de microorganismos. 
• Aumente a freqüência de troca de toalhas ou use toalhas de papel para enxugar o rosto e as mãos. 
• Não compartilhe toalhas de rosto. 
• Troque as fronhas dos travesseiros diariamente enquanto perdurar a crise. 
• Lave as mãos antes e depois do uso de colírios ou pomadas e, ao usá-los não encoste o bico do frasco no olho. 
• Não use lentes de contato enquanto estiver com conjuntivite, ou se estiver usando colírios ou pomadas. 
• Não compartilhe o uso de esponjas, rímel, delineadores ou de qualquer outro produto de beleza. 
• Evite coçar os olhos para diminuir a irritação. 
• Evite aglomerações ou freqüentar piscinas de academias ou clubes. 
• Evite a exposição a agentes irritantes (fumaça) e/ou alérgenos (pólen) que podem causar a conjuntivite. 

Para prevenir o contágio, tome as seguintes precauções: 

• Não use maquiagem de outras pessoas (e nem empreste as suas). 
• Use óculos de mergulho para nadar, ou óculos de proteção se você trabalha com produtos químicos. 
• Não use medicamentos (pomadas, colírios) sem prescrição (ou que foram indicados para outra pessoa). 
• Evite nadar em piscinas sem cloro ou em lagos. 

Todos estes cuidados devem ser verificados por pelo menos 15 dias desde o início dos sintomas nos indivíduos contaminados, já que durante este período as pessoas com conjuntivite podem ainda apresentar contágio, evitando repassá-la para outras pessoas. 



Na maioria dos casos de conjuntivite, os sintomas e a doença passam em 10 dias, sem que seja necessário qualquer tipo de tratamento. Medicações (pomadas ou colírios) podem ser recomendadas para acabar com a infecção, aliviar os sintomas da alergia e também diminuir o desconforto. Acima de tudo, não use medicamentos sem orientação médica. Alguns colírios são altamente contra-indicados porque podem provocar sérias complicações e agravar o quadro.

Para a conjuntivite viral não existem medicamentos específicos, sendo assim, cuidados especiais com a higiene ajudam a controlar o contágio e a evolução da doença.

Se você sabe que tem alergia ou intolerância a algum produto químico, mantenha-se longe dele, durante e depois da crise.

Para melhorar os sintomas, lave os olhos e faça compressas com água gelada, que deve ser filtrada e fervida, ou com soro fisiológico. 

E lembre-se: ao perceber alguma irritação, vermelhidão ou secreção anormal, procure imediatamente seu oftalmologista. Só ele pode indicar o melhor tratamento. 



Não se automedique, procure um médico, preferencialmente um oftalmologista, para fazer o diagnóstico correto e indicar o melhor tratamento. 

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Resistência Bacteriana


O primeiro antibiótico, a penicilina, foi descoberto por Alexander Fleming, em 1929, em um hospital londrino. Ele observou a inibição do crescimento em placa de uma cultura de estafilococos contaminada por um fungo, mais tarde identificado como Penicillium notatum. Anos mais tarde, com o advento da Segunda Guerra Mundial, foi imperativo que se estudasse e que se pesquisasse mais a quimioterapia moderna, pois com a guerra eram inevitáveis os ferimentos e, com eles, as infecções. A penicilina foi então extensamente utilizada contra estafilococos e estreptococos, grandes causadores de pneumonias, infecções aéreas superiores, septicemias etc. A nova droga tinha grande capacidade em dizimar essas infecções e, ainda, atuava de acordo com os princípios da quimioterapia moderna, ou seja, com toxicidade seletiva.
A resistência à nova droga foi descrita quase que imediatamente, bactérias produtoras de penicilinase, hoje chamadas b-lactamases, sobreviviam à terapêutica clínica e só altas doses efetivamente atingiam sucesso, concentrações inatingíveis sem efeitos de toxicidade. O desenvolvimento de resistência à penicilina pelo Staphylococcus aureus, através da produção de b-lactamase, diminuiu significativamente o uso dessa droga em infecções estafilocócicas, principalmente em pacientes hospitalizados nos quais as cepas resistentes são encontradas antes de sua disseminação à comunidade.
Com a evolução da antibioticoterapia as cepas de S. aureus foram tornando-se cada vez mais resistentes devido à produção de b-lactamases. Em 1946, apenas 5% das cepas de S.aureus eram produtoras de b-lactamase, atualmente, relatos de 1990 mostram que 90% das cepas produzem a enzima.
Inicialmente o fenômeno da resistência bacteriana não parecia ser um problema tão grande. Foi temporariamente resolvido com a introdução de novos agentes antibacterianos, tais como os aminoglicosídeos, macrolídeos, glicopeptídeos e ainda alterações estruturais nos compostos já existentes que refletiam em alteração de sua atividade e espectro antimicrobiano. Hoje se conhecem microrganismos multirresistentes, não sensíveis a quaisquer dos antibióticos disponíveis clinicamente, levando rapidamente à morte pacientes hospitalizados. Esses casos são cada vez mais frequentes, inclusive no Brasil.
As bactérias têm sido classificadas como resistentes ou sensíveis de acordo com dados de CMI (Concentração Mínima Inibitória) CMB (Concentração Mínima Bactericida). São ditas resistentes quando são inibidas in vitro só em concentrações superiores àquelas atingidas in vivo. Essa relação concentração da droga-inibição de crescimento não deve ser encarada como completamente verdadeira, pois o sucesso terapêutico não depende exclusivamente dessa relação, mas, sim, passa por fatores que incluem a capacidade da droga em atingir o foco infeccioso, caso da eritromicina, extremamente ativa contra o meningococo, mas que não penetra no sistema nervoso central, ou seja, fatores farmacocinéticos. Ainda o comprometimento imunológico do paciente, alvo da terapia, o quanto essa imunidade pode contribuir para auxiliar a terapêutica quimioterápica. Dessa forma, um dado microrganismo é sensível ou resistente apenas quando se observa o sucesso ou insucesso terapêutico, respectivamente. Visto isso, deve-se encarar a terapêutica de uma maneira mais abrangente, menos simplista, considerando-se: droga, microrganismo, farmacocinética e imunidade do paciente.
A resistência de dado microrganismo à determinada droga pode ser classificada inicialmente como intrínseca ou adquirida. A resistência intrínseca é aquela que faz parte das características naturais, fenotípicas do microrganismo, transmitida apenas verticalmente à prole. Faz parte da herança genética do microrganismo.
O maior determinante de resistência intrínseca é a presença ou ausência do alvo para a ação da droga. Assim, antibióticos poliênicos, como a anfotericina B, atuam contra fungos devido à sua capacidade de ligação a esteróis componentes de sua membrana. Alteram sua permeabilidade, levando-o à morte. Como bactérias não possuem esteróis em sua membrana, sendo essa uma característica natural, são portanto insensíveis a essas drogas. Outro clássico exemplo é a relação entre inibidores da síntese da parede celular, tal como as penicilinas e micoplasmas. Esses microrganismos não apresentam essa estrutura celular, logo penicilinas não encontram alvo para sua ação nesses microrganismos. Essa característica fenotípica é transmitida verticalmente de geração à geração sem perda da característica. A resistência intrínseca ou natural não apresenta qualquer risco à terapêutica, pois é previsível, bastando-se conhecer o agente etiológico da infecção e os mecanismos de ação dos fármacos disponíveis clinicamente.
A resistência ainda pode ser não natural ou adquirida. Ocorre quando há o aparecimento de resistência em uma espécie bacteriana anteriormente sensível à droga em questão. É uma "nova" característica manifestada na espécie bacteriana, característica essa ausente nas células genitoras. Essa nova propriedade é resultado de alterações estruturais e/ou bioquímicas da célula bacteriana, determinada por alterações genéticas cromossômicas ou extra-cromossômicas (plasmídios). Uma simples alteração genética pode levar ao aparecimento de um exemplar muito resistente, que normalmente não perde viabilidade e patogenicidade.
A aquisição de resistência tem diminuído muito a atividade de importantes antibióticos, servindo como objetivo maior de pesquisadores para a busca de novas drogas, associações ou esquemas terapêuticos.
O primeiro relato de resistência adquirida foi dado por Paul Ehrlich entre 1902 e 1909, mostrou que algumas espécies de tripanossomas não respondiam mais ao tratamento com azo-corantes. Em 1938, quase todas as cepas de Neisseria gonorrhoeae eram sensíveis às sulfonamidas, dez anos mais tarde, apenas 20% dessas cepas ainda apresentavam suscetibilidade. Essa diminuição na atividade se estendeu também a estreptococos hemolíticos, pneumococos, coliformes e outras espécies.
Faz-se imperativo salientar que antibióticos não são agentes mutagênicos, portanto não causam mutação em microrganismos, não fazendo aparecer qualquer nova característica na bactéria. É preciso que se entenda que antibióticos exercem a chamada "pressão seletiva", ou seja, em contato com microrganismos exercerão sua atividade, levando à morte as cepas sensíveis sobrevivendo então as resistentes. Com o uso frequente, essa seleção leva ao predomínio das cepas que de alguma forma sobreviveram, multiplicaram-se e agora são maioria. Portanto, fica claro porque em ambientes hospitalares ou comunidades sem qualquer controle no uso dessas drogas o aparecimento de cepas multirresistentes é mais frequente e também mais complicado.
O uso indiscriminado, irresponsável e ignorante de antibióticos, terapeutica ou profilaticamente, humano ou veterinário, passando ainda pelo uso no crescimento animal e propósitos agrícolas, tem favorecido a essa pressão seletiva, mostrando como resultado a seleção e predominância de espécies cada vez mais resistentes.
Em um artigo publicado na Inglaterra, em 1998, o autor mostra dados relativos ao uso de antibióticos no mundo. Mostra que de todas as drogas utilizadas, 50% se destinam a uso humano e 50% ao agroveterinário. Da fração de drogas usada em humanos, 20% são em hospitais e 80% comunitátria. Desse montante, calcula-se que de 20% a 50% não haja necessidade de uso. Para o uso veterinário, os dados são mais alarmantes, 20% são usados terapeuticamente e até 80% para uso profilático e promoção de crescimento. Estima-se que até 80% do uso agroveterinário é altamente questionável.
Alguns autores ainda condenam o uso indiscriminado e sem controle de antibióticos contra acne, o uso exagerado em hospitais, o uso em pacientes com presença de H. pylori sem lesão ulcerosa e, ainda, defendem um maior controle do uso em odontologia, pois genes de resistência do Streptococcus pneumoniae parecem ter se originado de estreptococos da cavidade oral. Esses mesmos autores ainda implicam o ensino médico como responsável por grande parte do uso indiscriminado de drogas, ressaltando a importância da conscientização do estudante para esse grave problema.
O uso indiscriminado não se relaciona diretamente com a pobreza ou falta de recursos de um país. Na França, nos anos de 1991/92, foi realizado um levantamento sobre o uso de antibióticos em crianças, chegando-se a valores absurdos para o uso de antibióticos em infecções de etiologia viral. Em torno de 25% das crianças da comunidade em estudo tomaram antibióticos contra infecções virais.
Em um estudo publicado no ano de 1987 os autores mostraram a quantidade de antibióticos consumida terapêutica, profilaticamente e na conservação de alimentos no ano de 1980. Chegaram ao espantoso valor de 17 mil toneladas de penicilina, o que naquele ano seria igual ao consumo de 3,84 g da droga para cada habitante da terra.
Para uma melhor compreensão do fenômeno global de resistência bacteriana é preciso entender como microrganismos adquirem resistência, como passam a expressar essa nova característica, de onde vem essa informação.

Fonte: Resistência bacteriana; Fernando de Sá Del Fio.